quarta-feira, 30 de julho de 2008

Onomatopeia coup de foudre

Tenho uma nova paixão! 

E é tão mais fácil termos paixões por objetos... Podemos amá-los à vontade, sem esperança de que eles nos amem de volta, sem esperar que nos retribuam em sentimentos... Queremos apenas que eles funcionem, que façam aquilo que está documentado no manual... 

Podemos amá-los só porque são belos e esquecer o seu interior, sem que nos atirem à cara que fazemos deles apenas objetos de prazer. 

Amo-te, Sony Ericsson W880i! És lindo, magro, esbelto, elegante, funcional, intuitivo, musical e cabes na minha mão como se a engenharia tivesse apenas tido em mente a nossa existência conjunta. Além de tudo isso, ainda serves de ponte entre mim e as minhas famílias: a de sangue e a que me adotou já depois da minha idade adulta. Através do amor que tenho por ti, tenho o amor deles sempre que eu quiser e eles têm o meu sempre que eles quiserem.

E, não sei bem porquê, esta lengalenga onomatopaica fez-me lembrar um poema de Herberto Helder, que não resisto a transcrever aqui na sua inteiridade...

No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.

Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo.
São silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos. Porque
os filhos são como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudez de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado
por dentro do amor.

5 comentários:

pedro efe disse...

é tão bom constatar que a febre do eu fode não atinge todos... :D

tinyGod disse...

"Funnel your favorite music into the ultra slim W880i Walkman® phone. Store up to 900 tracks - enough to give your musical taste buds whatever they fancy."

...

Acho que prefiro:

"Música e jogos - o elegante telefone móvel W910i Walkman® é a sua divertida companhia no mundo do entretenimento móvel."

Porque é elegante, divertido e faz-me companhia neste mundo! Todos móveis...todos entretidos!!

João disse...

Eu também tive um Sony Erikson que adorava. Depois só deu problemas. Nuunca mais :p.
Espero que tenhas melhor sorte :)

Keroppi disse...

pedro efe: mesmo que tivesse a febre, diz que o "eu fode" não é para todas as contas bancárias...

tinygod: a minha conta bancária também não é para o W910i...

joão: eu tenho um sony ericsson há 3 anos e só tive problemas com a manete aka joystick aka coisinha saliente que serve para andar de menu em menu.

Anónimo disse...

efeito herberto que me põe a escrever para deixar um abraço.

ou outro, abraço.