segunda-feira, 20 de junho de 2011

Onomatopeia retropoética #2

trazes-me a certeza
de que também nas
rosas as pétalas são
a tua imaginação contida
e que os espinhos celebram
a dor ou sangue
e ao levares contigo
as certezas que apregoas
arrancas as pétalas às rosas
e cortas as mãos aos espinhos
só para que a piedade se torne
tão naturalmente tua...



18 de outubro de 1997


se as longitudes se cruzassem
espacialmente
ou mesmo que as coordenadas
fossem na geografia meras coincidências técnicas
restaria sempre a certeza
de que as fundações não foram abaladas
e de que o edifício continua
tão pleno de limites
como nas origens se desejou que fosse
ao menos arranca-se o silêncio do solo...


18 de outubro de 1997

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Onomatopeia retropoética #1

Abri um baú fechado há mais de dez anos e eis aqui as primeiras poeiras que se libertaram:

não sei se foste um Fausto

ou uma Nereida ardente

não sei se tiveste nos teus braços

a potência ou a força do mundo

não compreendo se a tua voz é franca

ou se a fraqueza te atormenta

apenas aceito o teu sotaque mudo

e recuso que o respeito se imponha...


27 de outubro de 1997


e se o fogo trouxer a clarividência

alumia-se este canto onde estamos

obscurece a canção ou onomatopeia

que sussurras

a inteligência passa por cima dos

mortos

ao tentar perceber que a falta de movimento

não tem como significado a ausência de vida

apenas um congelamento...



27 de outubro de 1997