segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Onomatopeia polissindética
E há momentos em que, de tanto bater, o coração pára, momentos em que as pessoas normais têm algo de especial, momentos em que a respiração é ofegante sem sinal de cansaço, momentos em que a cadência do som embala, momentos em que a angústia se aceita como se fosse um órgão vital, momentos em que o esquecimento parece solução universal, momentos em que a incerteza é finitamente certa, momentos em que os pensamentos divagam pelos caminhos menos acidentados, momentos em que o tempo nos acolhe no compasso, momentos em que a grandeza dos outros não invalida a nossa vastidão, momentos em que as cores são vivas nas horas mortas, momentos em que o corpo dói como se a dor apelasse à confirmação da fisicidade, momentos em que a palavra é abafada pela certeza de que o gesto tem primazia, momentos em que o físico não responde ao metafísico, momentos em que o silêncio se volta contra nós mas não destrói, momentos em que o invulgar ameaça ser um contínuo quotidiano, momentos em que a aliteração dos gestos limita o caos da impaciência, momentos em que a improdutividade gera riqueza e a riqueza é apenas nominal, momentos em que os passos em volta são os passos concêntricos, momentos em que o deus das pequenas coisas zela temporariamente pelas grandes e tudo parece maior dentro da pequenez a que tudo está sujeito...
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5 comentários:
Ai que o meu menino agora me encheu de orgulho... Nunca mais escrevo nada no meu blog. E quando o vir ao vivo lhe farei uma grande vênia. Pode ser?
Ass: Gattaca
A vénia maior que me poderias fazer seria uma hiperligação no teu blogue para o meu...
Maravilhosamente devastador e caótico. Respirei fundo (só pela narina direita, porque a esquerda está zangada por causa dos esforços a que tem sido submetida...) e reli. Se todo o caos gerasse coisas assim...
Fizeste-me lembrar o nosso amigo Álvaro na Passagem das Horas, e para não estar a inventar umas banalidades (ainda que)maravilhosas, é melhor mesmo citá-lo:
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim; não sei se sinto demais ou de menos; seja como for a vida, de tão interessante que é a todos os momentos, ela chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger, a dar vontade de dar pulos, de ficar no chão,
de sair para fora de todas as casas, de todas as lógicas,
de todas as sacadas, e ir ser selvagem, entre árvores e esquecimentos, entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs.
Zurzo-o na incandescência de vê-lo nesta montra...brilha-me o cristalino!
bluenote: ego (quasi) ipsis verbis...
tinygod: nunca me lembro de si sem o cristalino refulgente...
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