Cena 2
O membro de uma organização qualquer, vestido como um funcionário de uma repartição pública qualquer, entra pela direita alta e senta-se mais ou menos a meio do palco, mas não muito a meio para não criar simetrias indesejadas. Logo após, e também pela direita alta, entra o deambulador de carros de supermercado, sem os carros de supermercado, porque o palco já não comporta mais objectos desnecessários. Pede-se assim ao público que intervenha na acção com os seus dotes imaginativos. O deambulador aproxima-se do membro e, sentando-se ou deitando-se ou apenas inclinando-se sobre o outro, morde-lhe a orelha direita. Com força, com carinho, com firmeza, com os lábios, com os dentes, dependendo da vontade e disposição do actor no dia da representação.
Membro (revelando alguma impaciência): E a orelha esquerda?
Deambulador: Essa não mordo... Pelo menos agora. Deixa-a sentir-se desprezada por uns tempos...
Membro: E se ela se queixar da injustiça?
Deambulador: Não lhe dês ouvidos...
Deambulador levanta-se e sai pelo mesmo sítio por onde entrou. Mantém-se o membro em cena.
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